As redes sociais nos ajudaram a entender o que se passava pelas ruas nos grandes protestos que tomaram o país com um olhar único dos manifestantes, das pessoas anônimas, comuns. Uma percepção que ia além do que a mídia tradicional vinha mostrando.
Mas a grande discussão que nós obrigatoriamente levantamos, enquanto jornalistas, era a disseminação de mentiras, falsidades, boatos por usuários e por grupos que estavam promovendo o terrorismo na população.
Cheguei a entrevistar um manifestante que se dizia agredido nas redes sociais, o compartilhamento da postagem dele chegou a 8 mil. Descobrimos que era mentira. Nem boletim de ocorrência que ele disse que ia fazer ele fez quando descobrimos a falsidade.
Em outra ocasião, na época da venda dos ingressos do Rock in Rio, estava apurando uma pauta sobre superfaturamento de ingressos nas redes sociais após um post que chegou a 20 mil compartilhamentos de uma pessoa denunciando um usuário pelo crime de cambismo on-line. Ao fim da apuração descobri que o perfil era fake e que o tal usuário, na verdade, estava querendo chamar a atenção e ganhar notoriedade nas redes sociais. Ele queria que a imprensa legitimasse seu perfil, sendo que tudo não passou de uma “brincadeira”.
Segundo reportagem divulgada na Folha nesta quinta-feira (4), com o título “Jornalismo domina rede social durante protestos pelo país“, entre os papeis da imprensa durante o protesto foi o de validar ou desmentir informações desencontradas disseminadas por usuários das redes.
Outra informação que eu e outra colega jornalista apuramos durante os protestos e que foi compartilhada desenfreadamente pelas redes sociais foi sobre a desocupação do Theatro Municipal no protesto do dia 13 para a suposta “infiltração de policiais militares” que iriam “pegar os manifestantes desprevenidos”. Apuramos in loco que, na verdade, apenas estudantes de um curso de dança haviam sido liberados e que o Theatro funcionava normalmente, sem nenhum “militar infiltrado”.
E mais, segundo reportagem da Folha:
De um falso Jô Soares anunciando duas mortes em uma manifestação, no Facebook, ao alerta geral sobre um golpe militar, no Twitter, os boatos se espalharam sem controle naquele período.
Outro boato dizia que a presidente Dilma Rousseff havia declarado que desligaria a internet se as manifestações prosseguissem. A origem deste último foi identificada em sites de humor.
Mas os demais se perdem no emaranhado de versões que acabaram recebendo guarida em perfis do Facebook e contas do Twitter.
Um deles dizia que um dos depredadores da sede da Prefeitura de São Paulo seria a mesma pessoa que rasgou as cédulas de jurados na apuração do Carnaval de 2012, Tiago Ciro Tadeu Faria.
Na realidade o agressor era o estudante de arquitetura Pierre Ramon Alves de Oliveira, como revelou a imprensa.
“Você vai descascando, descascando, e é como telefone sem fio: lá atrás era outra coisa”, afirma Leonardo Sakamoto, professor de jornalismo da PUC-SP. Ele chegou a postar em seu blog no UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, “os dez mandamentos para jornalista de Facebook e Twitter”. O primeiro é “não divulgarás notícia sem antes checar a fonte de informação”.
Se o tal “jornalista das redes sociais” pública uma informação correta ele é louvado e o jornalismo participativo surge como uma boa sacada para a iniciativa empresarial. Se ele distorce a informação, as grandes corporações afirmam que ele não deve agir como jornalista e, portanto, é um indivíduo despreparado. É um papel ambivalente de aceitar ou não sua importância.
Além do mais, esse tipo de jornalismo traz fascínio ao imaginário do cidadão comum e surge uma proliferação de “cidadãos-paparazzi” querendo publicar tudo o que vêem pela frente.
O jornalismo tradicional não deve se dissociar das redes sociais, mas usá-las criteriosamente para entender os anseios da população.