O jornalismo e a arte de modelar

Reparem na arte abaixo que foi feita para o caderno especial “Escolha a Escola”, publicado pela Folha no dia 22 de setembro. Como vocês acham que ela foi feita?

Photoshop? Corel Draw? Ilustrator? Ou algum outro programa mirabolante dos artistas gráficos?

ARTE- CAROLINA DAFFARA

(Clique aqui e veja a versão on-line e animada desta arte)

Nada disso! A arte foi feita com massinha. Aquela mesma que a gente usava na escola para modelar a tal da cobrinha desengonçada -com um olho maior que o outro, mas que toda as professoras e os pais achavam uma obra escultural, a mais linda do mundo.

Pois bem, a Carolina Daffara, 28, da equipe de arte da Folha, soube como agregar esse tipo de arte ao jornalismo. A ideia surgiu após se debruçar sobre as pautas que abordavam a educação infantil.

“Como é um caderno especial, tivemos mais tempo para criação do que teríamos para uma pauta do dia e foi isso que possibilitou investir num material como a massa de modelar, que precisa de mais tempo para ser trabalhado do que uma ilustração feita no computador, por exemplo”, conta ela que é formada em artes visuais pela Unesp.

Carolina Daffara

Na entrevista abaixo, Carolina me conta como foi o processo de criação dessa arte, que teve uma ajudinha da equipe da Fotografia da Folha e do Agora, e como isso agregou ao trabalho jornalístico, ajudando também o leitor com mais uma fonte de informação.

– Como se deu a criação dessa arte?

Tive algumas ideias, todas usando materiais relativos a educação infantil que resultaram nas massinhas. A partir desta escolha, tive um tempo de adaptação ao material, de testes, de errar um pouco no processo pra chegar na produção final. Fiz os bonequinhos sozinha, mas tive ajuda da equipe de fotografia da Folha e do Agora para passá-los pro papel e dos amigos e colegas de trabalho dando ideias.

– Como foi passar para o papel? Você usou algum software?

Como é uma massinha quase bidimensional, eu scaneei. Depois, fotografei em casa. Mas ficou uma droga, rs. Daí pedi ajuda pro pessoal da foto aqui na redação. Eles fotografaram com fundo branco, me mandaram as imagens e eu dei uma tratada no photoshop, mexi mais no contraste, porque pra ser impresso o fundo tem que estar branco mesmo, chapado. Se tiver com o fundo meio acinzentado isso sai na impressão.

– Como a arte pode enriquecer a reportagem?

Acredito que agrega em diversas esferas do nosso trabalho, pois cria-se mais uma camada de informação. As ilustrações em geral são utilizadas para ambientar o caderno, acrescentar outros dados que não estão no texto, representar as ideias contidas. Se tivesse escolhido outro jeito de ilustrar, isso tudo já seria transmitido, mas, nesse caso, o próprio material usado conversa com a pauta. É uma maneira de enriquecer a informação que está sendo transmitida.

Veja outras artes em massinha da Carolina, como uma calculadora interativa para os pais estimarem os gastos com a educação dos filhos e a estrutura de uma escola.

O caderno “Escolha a Escola” foi coordenado e editado pela jornalista Daniela Mercier, com reportagens de Rayanne Azevedo, Úrsula Passos, Sabine Righetti e minhas. A identidade visual é de Clayton Bueno. Veja aqui a página on-line e aqui a versão impressa. 

O especial traz uma perspectiva sobre os dilemas e desafios da educação básica (do infantil ao ensino médio). Foram visitadas diversas escolas, ouvidos dezenas de pedagogos e psicólogos, consultadas as mais importantes faculdades de educação do país, como da USP, PUC-SP, Unicamp, Unesp, Unifesp e UFMG. Mães, pais, crianças e adolescentes, claro, também ganharam voz. É um trabalho para ajudar a repensar a educação dentro da complexa relação família-escola-aluno.

O dia em que pautei os principais jornais impressos e televisivos do país

Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la.

Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.

É Gabriel Garcia Marquez… a gente que entrou no jornalismo para mudar o mundo e há quem duvide desse poder, eu nunca duvidei pelo menos. Aquela reportagem de poucas linhas pode ter feito a diferença na vida de alguém, que fez uso daquele conteúdo para transformar a vida de mais outras pessoas e assim por diante. Creio nos leitores, telespectadores e ouvintes que veem no bom jornalismo uma forma de emancipação.

Foi assim que aconteceu com a minha primeira reportagem/furo de grande repercussão na Folha. Polícia paulista cria cadastro de pedófilos, o primeiro do Brasil. Fiquei sabendo do tamanho da repercussão por conta de um e-mail do chefe de reportagem de “Cotidiano”. A reportagem pautou os principais jornais impressos e televisivos do país. Rede Globo, Estadão, Record, Band, O Globo… todos foram atrás da pauta. Passei a receber inúmeras mensagens de ativistas dos Direitos Humanos a respeito.

FOLHA DE S.PAULO - PEDOFILIA - ADRIANA FARIAS

Descobri a pauta de xereta que sou. Durante um plantão em “Cotidiano”, falando com pessoas ligadas à Secretaria de Segurança Pública, descobri uma delegada que trabalhava com pedofilia e que interrogava as crianças em uma brinquedoteca –para os pequenos se sentirem mais confortáveis ao denunciar o abuso sexual.

Como temas sociais sempre me sensibilizaram muito fiquei com o nome daquela delegada na cabeça. Mandei um e-mail para mim mesma me lembrando de ligar para ela.

Semanas se passaram e aquele e-mail se perdeu dentre tantos outros. No dia que comecei a trabalhar no TV Folha, até por eu ter um currículo em televisão, me lembrei da tal delegada e da tal brinquedoteca, porque pensei nas imagens que aquele espaço lúdico proporcionaria.

Liguei para a delegada. No final da conversa eis que ela me diz: “pois é a delegacia vai completar dois anos, e ela é tão desconhecida e a gente faz um papel tão importante. Estamos até criando um banco de dados para cadastrar os pedófilos do Estado”. Fiquei extremamente inquieta com aquela informação, fiz algumas pesquisas e vi que realmente eu tinha um furo para “Cotidiano”.

Com outro enfoque a reportagem entrou no programa TV Folha, onde tenho feito trabalhos em produção e reportagem. ‘TV Folha’ traz vítimas de pedofilia; violência contra menores cresce no país.

Entrevistei vítimas de pedofilia. Chorei com uma delas que é mãe. A investigação do caso estava parada na delegacia há um ano. O inquérito policial seguiu para o Fórum dois dias depois que a Folha pediu posicionamento e a reportagem foi veiculada tanto no jornal quanto na TV. Corri para dar a notícia para minha entrevistada. Era Dia das Mães.

Nas semanas seguintes, uma leitora, comovida com a reportagem, entrou em contato com a Folha querendo ajudar a família da vítima.

Transformar o mundo para mim é isso. É de tijolo em tijolo, de reportagem em reportagem. Às vezes falta cimento para dar solidez, o muro parece que vai ruir, você não tem certeza se deveria ter ficado com aquele tipo de tijolo que te dava segurança e que você já experimentou diversas vezes ou parte para um novo, que proporcione muros mais vibrantes, mas também incertos.

Tragédia no Sul: a cobertura jornalística no 6º maior desastre da história do Brasil

Às 7h da manhã chego na redação do jornal com um alerta da repórter da madrugada: “Teve um incêndio feio em uma casa noturna lá no RS, mas as informações ainda não batem. Os jornais locais estão falando em dezenas de mortos. Já publiquei o texto com algumas informações básicas que consegui apurar”.

Recebo a notícia com preocupação, mas sem imaginar a gravidade do que viria a ser aquele “incêndio feio”. O outro repórter chega logo em seguida e já menciona que ouviu falar sobre um incêndio numa boate, mas que ainda não tinham o número de vítimas.

A concorrência já disparava números altíssimos ainda não confirmados de pessoas mortas. A repórter da madrugada alerta: “Não vamos dar números que não correspondam com a verdade. A pior coisa que tem é ressuscitar morto”.

Apuramos na Defesa Civil, no Corpo de Bombeiros, na prefeitura, nos hospitais locais e o número de mortos chegava a números espantosos. Ligamos a TV da redação e a Globo News noticiava o incêndio, mas com imagens da CNN.

Diante do cenário que viria a ser pavoroso entro no Facebook, sempre um grande aliado, para checar as manifestações… depois de pesquisar perfis de moradores de Santa Maria (323 km de Porto Alegre), local onde aconteceu o incêndio, encontro uma página da cidade em que várias pessoas se reuniram para comentar o que estava acontecendo. Entre alguns dos comentários na rede estava o de uma menina que procurava desesperadamente pela irmã, que teria ido a tal da boate e estava desaparecida.

Entro em contato com a menina às 7h30 da manhã e, para minha surpresa, ela me responde com os contatos dela. Eufórica, disco o telefone correndo e Gabrieli Toniolo me atende. Desesperada atrás da irmã Leandra, que estaria usando uma saia verde e uma blusa branca, Gabrieli conversava comigo aos prantos. “Estou desesperada, já são 7h30 e até agora a minha irmã não voltou de lá, meu Deus!”, conta já soluçando. Inevitavelmente penso na minha irmã gêmea e as lágrimas tomam os meus olhos em questão de segundos. Tento esconder, mas não consigo. O repórter ao meu lado para de digitar a entrevista que havia feito com um bombeiro e me consola com um olhar.

Gabrieli me conta que uma amiga chamada Michele teria ido junto com a irmã dela na festa e que havia mandado uma mensagem de texto avisando que Leandra estava desaparecida. Pedi o contato da amiga e finalizei a conversa desejando toda a sorte do mundo e que ela iria encontrar a irmã logo logo. O texto saiu -> Família busca estudante desaparecida em boate no RS.

Com o telefone da amiga em mãos me senti como se estivesse com o contato mais valioso que um repórter de São Paulo, que não foi deslocado para Santa Maria, poderia ter naquele momento: o celular de uma sobrevivente do incêndio.

Na terceira ligação, Michele Pereira, 34, me atende. Tentando conter a euforia, me apresento como repórter do jornal e pergunto se ela poderia me contar detalhes sobre o incêndio. Michele está tão eufórica quanto eu, e a preocupação a mantém agitada pelo telefone.

Michele me conta que havia deixado a amiga Leandra no banheiro no momento do incêndio e que ainda estava procurando por ela. Em seguida, pergunto detalhes do que havia provocado o acidente e recebo a frase mais importante: “A banda que estava no palco começou a usar sinalizadores e, de repente, pararam o show e apontaram [o sinalizador] para cima. Aí o teto começou a pegar fogo, estava bem fraquinho, mas em questão de segundos começou a se alastrar”.

Pronto! Estava feita! Ninguém tinha essa informação preciosa às 9h da manhã vinda de uma pessoa que estava exatamente em frente ao palco e viu como tudo aconteceu. -> Vi pessoas sendo pisoteadas tentando sair, diz vítima de incêndio. Furo nos concorrentes de São Paulo.

Estrelismos a parte porque a tragédia não merece, mas a sensação do furo é inerente a qualquer repórter em uma cobertura como essa em que o telefone acaba sendo o único aliado.

Durante esse período de apurar e redigir as matérias, repórteres de todo o jornal já haviam sido contatados para virem o quanto antes para a redação, os mais experientes vieram por espontânea vontade já sabendo da importância do fato.

Todos os jornalistas ajudaram a nossa editoria (Cotidiano) a apurar a tragédia. Repórter de Mundo cuidou da repercussão internacional e o contato com os correspondentes no exterior, o da revista saopaulo ajudou procurando mais personagens e apurando as notícias da rádio gaúcha, repórteres de Poder, Mercado, Esporte e de outras editorais também participaram. Os repórteres de Cotidiano que iam chegando se dividiam na apuração: um ficou encarregado do perfil da cidade de Santa Maria, outro do perfil da banda que estava na boate e assim por diante. Uma repórter nos salvou trazendo comida.

Naquela hora atentos a rádio gaúcha e ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, recebemos a informação truncada de que seguranças teriam barrado a saída das pessoas que tentavam fugir do fogo e a minha chefia queria essa informação. Penso em ligar novamente para a Michele, talvez ela tivesse essa informação e não teria me passado na primeira entrevista. Ligo na casa dela e a prima atende com a notícia: “Adriana, a Michele não pode falar agora. A família encontrou o corpo da amiga dela dentro do caminhão da Brigada Militar. Ela está em estado de choque. A família está desolada”.

Paro alguns segundos, solto um profundo suspiro e agradeço a informação. Não tive coragem de perguntar mais nada. -> Família identifica corpo de estudante de radiologia de 23 anos. (texto saiu às 11h 57 e teve meio milhão de acessos)

Naquele momento todas as reportagens sobre a tragédia haviam sido feitas por São Paulo. A equipe de correspondentes de Porto Alegre foi deslocada, mas levaria pelo menos 3h para chegar ao local.

Às 13h a redação do maior jornal do país já estava completa, junto com as equipes da fotografia e da infografia. Muito antes disso, a chefia da home já estava em peso na redação “estourando” o site, ou seja, mudando radicalmente as manchetes para as chamadas da tragédia. O domingo havia se transformado em uma segunda-feira.

Os olhares dos jornalistas, fotógrafos e ilustradores do jornal foram tomados por uma sensação profunda de tristeza e horror a cada informação apurada. A reportagem foi publicada no caderno especial de “Cotidiano”, na edição nacional do dia 28, outros trechos das entrevistas saíram na edição São Paulo.  Essa foi a minha primeira cobertura de uma tragédia e, sinceramente, que tenha sido a última.

TRAGÉDIA NO SUL - FOLHA DE S.PAULO

CURIOSIDADE: O The New York Times, um dos jornais mais reconhecidos do mundo, entrou em contato com a chefia do jornal pedindo para falar comigo porque eles queriam o contato dos meus entrevistados. (Vocês dariam? Para quem não quiser se manifestar aqui aceito inboxs no facebook, como sempre!)

Não tem uma matéria trágica que eu fiz que eu não tenha me horrorizado

No domingo (18)…

Caixa do e-mail do trabalho lotada, alguns alertas sobre a onda de violência na cidade, com dois travestis baleados no centro de São Paulo. Fora isso (não minimizando a situação) o dia estava tranquilo. Com uma pausa para checar se eu não havia perdido nenhum e-mail importante eis que me aparece uma mensagem de uma leitora da Folha.

Ela pedia espaço no jornal para divulgar a história sobre o cachorro dela que havia desaparecido há dois meses na zona norte de São Paulo. No e-mail, ela dizia que não iria deixar de procurar o cão e por isso tinha apelado para o Facebook. Lá, ela criou uma página chamada “Procura-se Bingo”.

Esses tipos de e-mail aparecem aos montes na redação, como a própria dona do cachorro deve saber, mas mesmo assim ela não desistiu e entrou em contato com o jornal. A história também não é novidade. Muitas famílias perdem seus cachorros e criam páginas nas redes sociais para tentar encontrá-los. O caso não é forte. A história tinha tudo para não ser aceita. Foi o que eu pensei no primeiro momento.

Eu própria, como repórter, estava me autocensurando diante daquela possibilidade de pauta.

Trabalho em uma editoria em que todos os dias lidamos com o jornalismo policial, com temas como assassinatos, acidentes, assaltos, furtos, sequestros, tráfico de drogas, armas, operações policiais, prisões e todo tipo de irregularidade. E os mais experientes dizem “jornalista não pode ter estômago fraco”, ainda mais para essa editoria, mas isso não nos torna indiferentes às mazelas dos outros.

Não tem uma matéria trágica que eu fiz tanto no jornal quanto em televisão que eu não tenha me horrorizado, que eu não tenha me chocado. E é assim que tem que ser. Não quero me habituar com uma desgraça e não me sensibilizar. Isso me torna humana. Tão humana que acreditei na pauta da leitora e levei adiante.

Aquele domingo calmo para mim se transformou em uma esperança eufórica para a estudante Fabiana Cadete, dona do cachorro Bingo. E eu fiquei muito feliz com isso.

Estudante cria página na web para encontrar cão perdido

Depois da minha reportagem, a história do Bingo foi até a RedeTV! no programa “Se Liga Brasil”, da apresentadora Regina Volpato.

Kiss causa histeria em shopping de SP; matéria para a Ilustrada

Abro o facebook e qual é a notícia que eu encontro? Os caras do Kiss no shopping JK fazendo compras como meros mortais, sem fantasia, sem boné, sem disfarce, sem seguranças… nada!

É claro que eu fiz matéria! Ta na Ilustrada, da Folha. Clica aqui.

Quando uma pauta cruza o caminho do repórter

A sessão das 21h do filme de terror “A Entidade” estava lotada no último dia 4 em uma das salas do Cinemark do shopping SP Market.

As cenas aterrorizantes me fizeram pegar a jaqueta do meu namorado para usar como cobertor para tapar os olhos. Dizem que quando a pessoa esta apavorada e usa algo para cobrir o corpo até a nuca uma camada de proteção se forma e nenhum mal pode acontecer =). Foi assim que eu fiquei quase o filme inteiro, me contorcendo de um lado a outro diante das cenas fortíssimas de pessoas sendo esquartejadas, degoladas e afogadas. Veja só:

Eis que um barulho vindo de uma das fileiras da frente toma a nossa atenção. Uma criança estava na sala assistindo o mesmo filme. A indignação não poderia ser maior. Muito mais do que atrapalhar quem estava compenetrado no filme, aquela criança não poderia estar ali vendo aquelas cenas fortíssimas. A classificação indicativa do filme era de 14 anos.

Depois de observar o comportamento da criança em boa parte do filme, eu saí da sala inquieta. Não sabia até que ponto uma criança pequena, a princípio parecia ter 4 anos, poderia ser afetada por aquelas cenas. Pronto! Meus instintos jornalísticos vieram à tona. Eu tinha uma pauta!

Com respeito e delicadeza, perguntei a mãe daquela criança como ela tinha conseguido entrar no cinema. Ela respondeu que simplesmente passou sem ser barrada. Também perguntei a idade da criança. O menino fofíssimo tinha 2 anos. Quando mal terminei de perguntar o motivo que ela tinha trazido a criança para ver um filme tão forte… a mãe desviou o assunto e se dirigiu ao caixa do estacionamento.

Sai com a sensação de que tinha uma boa pauta! Para ter certeza da minha intuição fui em busca dos departamentos de psicologia da USP e da PUC-SP. Eles me encaminharam para duas especialistas na área de criança, uma delas, inclusive, vem estudando o impacto da televisão nos pequenos. As duas profissionais classificaram a situação como “grave”.

Entrei em contato com o Cinemark e com o Ministério da Justiça, que é responsável por fazer a classificação dos filmes.

Depois de toda a apuração, tive 100% de certeza que realmente eu tinha uma boa pauta no sentido não de criminalizar ninguém, mas de passar a informação aos pais que em muitos casos, por falta de informação, não sabem que uma criança de 2 anos pode sim ser influenciada pelo que vivencia, pelo que vê na televisão ou no cinema. “É uma discussão que pouco se faz no Brasil”, disse uma das especialistas.

Levei a pauta com convicção para o chefe de reportagem…

Saiu! Está em Coti, que é como chamamos carinhosamente a editoria Cotidiano da Folha. Dá para ler clicando aqui.

Às vezes, as pautas surgem em situações que você não espera. Uma conversa num happy hour pode te levar a uma pauta, algo que te deixe inquieto ou o indignado pode ser um sinal. Seguindo para o trabalho às 7h da manhã e você vê um trânsito atípico para o horário fique atento, pergunte o que é… pode ser um tráfego intenso por excesso de veículos mesmo ou pode ser um acidente (exemplo verídico aqui). É a nossa profissão, temos que ser observadores, curiosos e questionadores, se um dia perdermos essas qualidades estará na hora de mudarmos de profissão.

A utilidade do Excel em um TCC de jornalismo

Como alguns já sabem, o meu livro oficial “London Calling – histórias de brasileiros em Londres” nasceu do meu trabalho de TCC, que na época dei o nome de “Brasileiros na Terra da Rainha”.

A trajetória desse projeto saiu no blog Novo em Folha, do jornal Folha de S.Paulo, e desde então muitos estudantes de Jornalismo têm entrado em contato comigo justamente por conta deste trecho que escrevi:

“Abri uma planilha no excel e coloquei todas as minhas prioridades: todas as entrevistas que eu precisava fazer, o que faltava coletar, o que faltava pesquisar, organizar viagens, quais eram as tarefas dos dias seguintes, quais livros eu tinha que ler. Sempre quando eu finalizava uma tarefa eu ia no excel, marcava com um traço e dava “ok”, se eu via que tarefas que eu deveria ter cumprido não estavam feitas, sem aquele “ok”, eu entrava em desespero para quitar o quanto antes. Foi assim durante todo o meu projeto”.

A tabela/planilha que eu criei no Excel, com ajuda da minha irmã Juliana, me ajudou a fixar metas e prazos e com isso eu consegui me concentrar mais no TCC e passei a não dispersar tanto como é o caso da maioria das queixas que estou recebendo por e-mail.

Para deixar a questão mais ilustrativa eu recriei uma tabela para o mês de setembro sobre um projeto fictício:

Essa tabela pode se aplicar a qualquer projeto, mas depende muito mais da determinação da pessoa em seguir e agarrar com unhas e dentes o projeto para que ele não seja uma obrigação na grade, mas algo que dê frutos. Isso é possível escolhendo um tema que tenha tudo a ver com você e em um grupo que valha a pena. Se o grupo não for bom, abandone o barco e reme sozinho, sem medo!